segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O Capacete mágico do Piero



Ah! A hora do recreio! A hora do recreio, na escola, é sempre uma hora mágica. É lá que temos espaço e tempo para colocar em dia o final de semana, comentar do que aconteceu nas aulas do primeiro período e lançar as mais variadas, temidas e absurdas conjecturas sobre o que vai acontecer no período que ainda resta das aulas.

Tão forte é a influência da hora do recreio nas nossas vida que continuamos pelo resto delas associando positivamente esses intervalos onde corpo e mente entram em compasso e sofrem menos com as exigências da vida.

Um dia no primário

Lá estava eu saindo da classe e entrando no pátio do Colégio Dante Alighieri para o ao merecido recreio daquela 2ª feira do ano de 1962 quando, a tradicional aglomeração em torno da cantina tinha mudado de lugar. Estava agora mais para o centro do pátio onde se sobressaia uma figura magra e alta que segurava um reluzente capacete usado por pilotos de corrida. Um novo, reluzente e prateado Les Leston, a marca do capacete definitivo.

A figura magra, alta, simpática e falante era ninguém menos do que Carlo Gancia que exibia com orgulho o capacete de seu pai Piero Gancia. Fui chegando querendo ver de perto aquele troféu (já freqüentava Interlagos esporadicamente levado por meu pai há uma boa meia dúzia de anos, já lia sobre a F1 há 12 meses, mas só via pilotos e capacetes de longe) e, quem sabe até, tocá-lo.

“O meu pai conhece o seu pai”

Foram as primeiras palavras que disse para o Carlo, lembrando a ele que meu pai era médico da família Gancia. Em uma fração de segundos estava, hipnotizado e congelado com o capacete nas mãos. Começou ali uma amizade profunda com o Carlo que dura até hoje. Consolidou-se naquele momento uma paixão pelo automobilismo que faz parte do meu dia a dia desde então.

Graças ao capacete do Piero e a ele mesmo por quem tantas vezes torci, agora sim, do lado de dentro dos “boxes” até mesmo comemorando o seu título de 1º Campeão Brasileiro de Automobilismo em 1966. Piero de quem fui Diretor quando ele assumiu a Presidência da CBA. Piero que sempre mostrou o quanto pode a combinação de educação, inteligência e visão e o tanto que no esporte, nos negócios e na vida toda, vale ser um cavalheiro (um gentleman), mais do que qualquer outra coisa. Piero de quem me mantive um admirador de carteirinha, apesar do tempo que passa e das distâncias que se tornam inevitáveis.

Obrigado, Dr. Piero

Hoje dia 1º de novembro de 2010 o Piero morreu em conseqüência de um longo período sofrendo com o mal de Alzheimer. Descansou enfim e nos deixou a todos o legado de ter colocado o Brasil na primeira fila do Automobilismo mundial, também do lado de fora das pistas. Hoje é dia de nos curvarmos à magia que ele soube transmitir a todos e de agradecer por todos os seus ensinamentos. É dia também de mandarmos um abraço carinhoso à sua companheira de toda uma vida Dona Lulla, aos seus filhos Carlo, Kika e Bárbara e aos seus netos Marina, Piero e Giovanni.

Ciao Piero! Ci vediamo a..

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